19/11/2021

A EVOLUÇÃO HUMANA É UM SOMATÓRIO DE COOPERAÇÕES

             Explicando:

Alguém inventou a roda láááááá atrás. Depois, outra pessoa encaixou essa roda num eixo, pôs em cima de uma casca de árvore, amarrou-a a um pedaço de pau, criou um cabo para puxar o cesto de rodas e nele passou a carregar pedra, raiz, batata, animal abatido, o escambau... mais tarde, outro ser iluminado adaptou esse trambolho a um cavalo e, pronto, criou a carroça, que continua sendo usada até os dias de hoje. E mais, as carruagens foram revestidas de um amontoado de lata, ferro, plástico, motor veicular e engenharia monetizada capaz de levar os consumidores de um lugar a outro num piscar de cartão de crédito. E Deus viu que isso era bom e tocou o bonde...

Da mesma forma, os primeiros seres deixaram de ser andarilhos, se instalaram numa beira de rio, construíram abrigos, começaram a plantar, a colher, foram se organizando, criaram normas, regras, leis, regulamentaram funções e elegeram responsáveis pela condução das instituições que se iam formando...

O tempo passou ante a arte e o engenho. O gerenciamento da sociedade ficou ali entre quem era o mais forte, o mais velho, o dono da riqueza, o escolhido por deus, o mais conhecido, etc...

De lá pra cá, tudo isso, de certa forma evoluiu e o mecanismo de interação entre os grupos foi se aperfeiçoando e também se repetindo, de modo que, hoje em dia, o jeito de governar as sociedades se apresenta tanto do modo moderno/contemporâneo, por meio de escolhas e práticas democráticas, etc, quanto do jeito medieval e primitivo. Quer dizer, evoluímos sem deixar de lado as raízes beeeem lá de antes. Seria isso um dilema na humanidade? O lugar onde você habita é assim? Tá gostando? Tá não? Tá nem aí? Reclamar onde? Nos quintos da civilização?!...

A senha para o entendimento da geleia geral da evolução é que ao mesmo tempo em que somos seres evoluídos no raciocínio pensativo (?), somos os mesmos primitivos de outrora. E Deus viu que isso era bom e... deixa rolar!

Todo o passo a passo, todo o percurso, cada tijolinho acrescentado pode ser chamado de força colaborativa da linha do tempo.

É claro que em tanta sede de existência houve espaço para um contrário se sobressair (senão nenhum jedai justificaria seu heroísmo). Nem todos remam para o mesmo lado. Então, muitos perseguem a sua razão nisso ou naquilo; adotam uma atitude adversária; elegem uma força de crença e gritam bem alto, mesmo, às vezes, sendo poucos. Estabelecem sua razão nisso ou naquilo. Lutam demais por seus ideais, suas bijuterias, seus produtos de antiestética, seu gosto pessoal, seu partido, sua sopa de emagrecer, sua linguagem artificial, sua voz de desabafo... não importando o resultado, já que no curso da história, tudo acaba sendo corroído ou se incorporando à trajetória temporal. Vale a coragem? Elas juram que sim. Por que não!? Vai saber...!

No final, o tom de colaboração prevalece. Assim espero! Descontando o percentual de mediocridade reinante no mundo, a vida é uma contínua consequência da consequência, um acréscimo de realizações, um aperfeiçoamento do hoje e do que está por vir.

Pelo sim, pelo não a melhor parte da história é a colaboração. Né!?

05/11/2021

ROUBASTE O QUE A MOÇA CONTOU, NÉ, DRUMMOND!?

Não vale, Drummond!

És maior. Sei.

Mas mentiste pra nós, né?! Guardaste bem o bilhete de certa viagem no meio do sossego dos teus alfarrábios. Sei disso!

Que viagem? Ora, ora! A viagem secreta ao mundão dos igarapés do Marajó. Revela!

Diz aí que as histórias que te chegavam sobre o Marajó mexeram com o teu imaginário imaginativo de imaginador compulsivo e te impulsionaram a confirmar de perto a visão provocativa do lugar.  

Falo da crônica A moça contou, publicada no Jornal do Brasil em 1981, e no livro Boca de Luar em 1984.

Aquela crônica sobre o Marajó fabuloso e prático que “atiça curiosidade de saber mais, mais.”

Aquela em que revelas direitinho dos labirintos infinitos de Soure, Salvaterra, Joanes, Condeixa... das “garças e guarás vermelhos pousando nas lagoas”, dos jacarés de montão, das aves de toda cor “que não se assustam com o barulho doce dos remos”... e da vida “arco-irisada” capaz de embriagar a “inocência do gênesis” e de deixar bobo qualquer um que fique na dúvida “sem saber se olha ou se bebe a paisagem.”

A viagem que fizeste ao Marajó é bastante curiosa, tá?!

Sei que na travessia de barco apertaste os olhinhos para avistar láááá longe o cinza sem fim do verde que toma conta de tudo.

Os artifícios de engenhosidade que usaste para entortar a história são bem típicos da tua meninice de funcionário público aposentado. Tá pensando que não sei, meu caro!?

E digo mais. Pisaste na praia e levaste na pele da alma o cheiro do lugar. Fala a verdade!

Tudo que dizes ali, tudo, tudinho não é brincadeira não!

A pintura que fazes das pessoas, das coisas, das praias, das histórias, dos lugares... são segredos míticos debulhados de um olhar buliçoso/inquieto/alumbrado,

somente existente nos dedos capciosos de um menino como tu.

Então, por mim, tá concluído: tu foste sim ao Marajó, bem debaixozinho do nosso nariz, acompanhado da tua metafísica do conhecer, debochando das nossas certezas baseadas na razão empinada. E, de quebra, sorriste da nossa incapacidade de perscrutar-te, te descobrir entre os visitantes mais atentos.

A moça da história foi só uma desculpa para enviesar e dizer que nunca vieste ver verdadeiramente o vivo Marajó. Conta outra! Sei do completo narrador viajante que és. Porém, nesse relato, tua veia de devorador de cenários e de paisagens humanas dá a pista de que teus pés pisaram no chão marajoara e não nos deixa enganar: tu bebeste do leite do amapá. Ou teria sido de búfala?

E se ainda fizeres um juramento inquebrável/inquestionável/inculpável/axiomático/... confessando que as imagens da tua alma foram retiradas das palavras escritas na carta que recebeste daquela moça...

... Será?!

Bem...

No final, Drummond, aquela crônica já não é tua mesmo...

E ainda que te desculpes:

“Lívia, achei tão linda, mas tão linda a sua carta que não resisti: roubei-a para fazer uma crônica.

Você me perdoa?”

Eu te perdoo, Drummond.

Obrigado, professora Lívia Barbosa (na época, estudante) pela provocação enviada nas correspondências ao destinatário.

http://revistas.unama.br/index.php/asasdapalavra/article/viewFile/1600/941?fbclid=IwAR3I8duaReKP6VIKSup_HYgKqcrfWrBUulYwlVK6pDCHZFi1RLof9548kEk

02/06/2021

III - DIÁRIO DE BORDO 2021 - FORA DO SISTEMA

Algumas pessoas não sabiam da existência do vírus; viviam em lugares distantes do aglomerado das cidades, situados em áreas de selva, além de territórios indígenas, muitos deles de pouco contato com as comunidades ribeirinhas mais próximas. Eram coletividades de parcos recursos tecnológicos que praticavam a agricultura básica, o convívio familiar e o modo tradicional de subsistência em correlação direta com a natureza.

Os integrantes desses grupos eram descendentes das primeiras pessoas que haviam abandonado as cidades grandes e se estabelecido nessas localidades de difícil acesso. Eram os filhos dos filhos dos que decidiram viver fora das redes, fora do sistema, sem a engrenagem social, política e econômica contemporânea. Tal geração, posterior aos que deixaram de se conectar com as cidades e passaram a ser autossuficientes fora e longe das cidades, já caminhava a larga experiência sem o intercâmbio da urbanização.

A determinação dessas pessoas não permitia o relacionamento direto deles com as sociedades habituais anteriores; já haviam absorvido o sentido da iniciativa dos fundadores da filosofia de vida adotada por eles. Com o acréscimo de que passaram a dominar a vocação para a vida tribal, beirando o primitivo. Eles evoluíram em relação aos seus pais, no sentido de que passaram a dominar técnicas de resistência ao progresso urbano, à evolução tecnológica, ao sistema de intercâmbio de provas comerciais e dependência do consumismo; tinham assimilado a vocação dos mais velhos, optantes por outro mundo, diferente do modelo sistematizado de vida aparelhada e artificial que direcionava as vontades, onde cada um vivia num círculo viciado de hábitos e costumes cada vez mais dominante e avassalador.

Dessa forma, as sociedades fora do sistema conquistaram muitos adeptos; eram os desconsolados do mundo polarizado, pessoas desacreditadas do debate em torno da distopia da utopia, incluindo a protopia, e partiram para pôr a mão na massa da civilização orgânica e essencial. Foram habitar o inabitável, o lugar difícil de chegar e de se achar, para além das linhas de ônibus e das estradas onde os automóveis transitam livremente.

Uma dessas comunidades foi existir num além rio-mar da grande mãe amazônica; um espaço não habitado, onde a ocupação e a exploração seriam de primeira vez. Era constituída de pessoas livres e ambiciosas no desejo de viver e produzir dentro da comunidade que decidiram levantar naquele lugar.

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30/05/2021

II - DIÁRIO DE BORDO 2021 - O VÍRUS

O vírus tinha uma proteína retardadora cuja ação dependia do estado psicoemocional do indivíduo. Dessa forma, os testes de detecção corriam o circuito cerebral do indivíduo para identificar o tipo de sinapse fragmentada na porção de retaguarda do cérebro. Em hipótese alguma, os testes de reação haviam funcionado em mentes autistas, o que dava a essa categoria alto potencial de confiabilidade no desenvolvimento de antídotos contra doenças atingidas por vírus e bactérias sintéticos.

No início, o vírus atingia muito mais as pessoas idosas e muito menos as crianças; ao longo das infecções, tornou-se indiferente. No entanto, veio da Comunidade Científica Alternativa uma solução: a transferência do sangue das crianças para os idosos. A prevenção teve baixa taxa de adesão e o resultado deu ânimo a outras pesquisas que vieram desembocar na transferência de gênero pelo processo que ficou conhecido como BRT (Brain Rapid Transfer).

Mais tarde, um psicobiovírus passou a ser transmitido via pensamento; ficava incubado nas células do medo das pessoas e era ativado ante as impressões recebidas nas mensagens produzidas nos laboratórios da informação. Nem todos conseguiam ser infectados porque, durante o processo de transmissão, algumas pessoas anulavam a fase sugestionável da tentativa, ou seja tiravam o carregador da tomada.

Uma seita de adoração ao vírus surgiu no centro do que restou da América e cooptou mais de um milhão de integrantes em menos de um mês. Rapidamente eles se espalharam em lugares próximos à linha do Equador; os adoradores se infectavam e se expunham ao Sol por 14 dias; ao final desse período, a libertação era conseguida. Cerca de 10% dos integrantes da Seita Sun conseguiram a passagem de redenção para o Céu. Os demais abjugados, em grupos de dois, difundiam-se pelo mundo multiplicando a boa nova. A cada ciclo de conversão, os adoradores repetiam o ritual de submissão ao vírus por 14 dias, para conquistar a liberdade. Sem a conquista, seguiam na obediência repetindo a série de cura.

O combate ao vírus se tornava cada vez mais individualizado. Muitos recusavam os antídotos disponibilizados no mercado em geral e tratavam de providenciar a sua própria cura. Em pouco tempo as farmácias vendiam manipuladores de essências, cápsulas vegetais processadas, géis e pomadas, adoçantes e preservativos orgânicos, todos capazes de defender o organismo humano dos vírus ativos.

Havia, ainda, fórmulas caseiras amplamente difundidas nas mídias conhecidas de então, incluindo a grande rede substituta das superadas FAANG+Twitter+Insta.

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28/05/2021

DIÁRIO DE BORDO 2021 - I

‘Stávamos em plena viagem.

Era 2021.

Um alvoroço tomava conta de todo o mundo.

Uma doença havia se espalhado pelo universo Terra, a partir de um vírus originado em uma região chamada China, uma imponente figura que aumentava seu arco de domínio e despontava como o grande dragão que tentava conquistar a humanidade.

No princípio, havia uma luz de esperança. Todos acreditavam que o vírus seria contido nas cercanias do local do escape.

Não foi. E foi exportado pelos noticiários. Depois, pela dinâmica das relações.

O espalhamento da infecção entre os habitantes do planeta Terra modificou o comportamento da população.

Para evitar a transmissão do vírus, os contatos entre seres humanos foram evitados, alterando as relações entre as pessoas. Muitos governantes obrigaram seus habitantes a não sair de casa, sob o pretexto de não contribuir para a potencial distribuição do vírus, uma vez que o processo de transmissão se dava pela inspiração/respiração.

Por outro lado, em meio ao cenário pandêmico, muitos cientistas em vários lugares do mundo recorreram aos arquivos de suas matrix e rapidamente criaram antídotos para combater o vírus.

Todas as tribos pleiteavam o antídoto para sua defesa, não sendo possível adquiri-lo pelos meios tradicionais de compra e venda. Os detentores do remédio usaram de protocolo paralelo para negociar o produto e o ofereciam de forma repetida aos interessados espalhados por todo o planeta. Em alguns lugares ele abundava, em outros era escasso. Logo começou uma disputa feroz pelo antídoto, utilizando-se de frentes diversas de contrabando, roubo, chantagem, extorsão e manipulação.

A indústria farmacêutica diminuiu a produção do produto para inflacioná-lo e, depois disso, a cada ano alterava a composição da fórmula para atender uma nova demanda de infecção, provocada pela constante mutação do vírus.

Em meio à situação, foi descoberto um mecanismo de alimentação e retroalimentação do caos, em que um laboratório clandestino liberava aleatoriamente vírus produzidos na sua incubadora e uma indústria farmacêutica comprava desse laboratório o antídoto, que era criado para combater o vírus despejado no mundo.

Mais tarde, seria descoberto que tais antídotos eram eficientes num período próximo à recém introdução dele no organismo; depois, o antídoto perdia a eficiência e atuava no cérebro do indivíduo, tornando-o imune à realidade. Tal descoberta ocorreu a partir de estudos realizados num centro de pesquisa de um país chamado Índia, o novo fomentador do mercado global. Quanto ao efeito colateral do descolamento da realidade, mais tarde foi confirmado por centros de pesquisa psicossociais que o fator deflagrador desse fenômeno eram os noticiários. Assim, estabeleceu-se que a combinação vírus+noticiário+mídia+comentários+predisposição era o motivo da humanidade sofrer de fuga da realidade.

Ante a insistência mundial por política de combate ao vírus, a Organização das Nações Unidas (nessa época, existia um organismo chamado ONU), convocou os países resistentes a se organizarem num protocolo intitulado Plano de Trabalho Conjunto para Combate à Pandemia e Estabilização da Humanidade (PTCCPEH), a partir dos profissionais de saúde sobreviventes.

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26/04/2021

VALE A PENA SALVAR A HUMANIDADE

No princípio, eu queria transformar a humanidade — em quê não sei, mas eu queria! —, revolucionar o tempo e o espaço, destronar os impostores da dor e da injustiça, declarar a existência livre e soberana; queimar as superficialidades na fogueira das vaidades, converter o tudo e as pessoas pela arte, etc...

Aí um livro sacudiu o meu delírio e me deixou sem fôlego: Vidas Secas, de Graciliano Ramos; chorei com a morte da cachorra Baleia e da miséria interior dos indivíduos.

Outros livros me deram rasteira: A metamorfose, de Franz Kafka, por exemplo. Outros textos me socaram o estômago sem piedade, como os de Clarice Lispector; ela sim deu nós e sopapos na minha mente e continua contribuindo para as minhas imperfeições. Triste fim do ser humano que não tem a oportunidade de levar tapa na cara dos diálogos e desfechos das histórias de Nelson Rodrigues. Esse sabe revelar os recônditos das mentes dos nossos vizinhos (Coitados dos mortais!).

Como eu não nasci para ser anjo de uma só asa, circulo de mansinho pelo território das palavras, nem que seja para recolher algumas delas de modo avulso; aquelas que, acidentalmente, escapam dos lábios de papel dos reveladores de segredos diários; aquelas que, de vem em quando, promovem nossa purgação aleatória.

E daí vem minha sentença: nascemos para ouvir e contar histórias; ouvir e recontar; reouvir, recontar... Sem elas não sobreviveríamos. Sem elas não teríamos a curiosidade de nos assustarmos, de penetrar nos labirintos com fome desesperada.

Depois de algum tempo aprendendo com as histórias, me convenci que continua valendo a pena salvar a humanidade (o pra quê permanece). Pelo sim, pelo não, deixa a fogueira das vaidades acesa no quintal, por que nela sempre há espaço para algumas superficialidades.



22/04/2021

QUEM DISSE QUE REALIDADE E FICÇÃO NÃO SÃO IRMÃS?


O dilema é: realidade e ficção têm parentesco?

Para alguns crédulos, elas não se conhecem; para outros contribuintes, é possível passar uma vida inteira sem conhecê-las. Uns tantos juram que jamais se afastam da própria realidade. Por outro lado, há quem diga que realidade e ficção são duas irmãs, moram na mesma casa, dividem o aluguel da ancestralidade e passam boa parte do tempo na janela observando os transeuntes. Por vezes se separam; uma vai prum canto, outra some de vez; depois, a sumida reaparece com um oi! e tá tudo certo.

De que vivem? De tudo que é simpatia e bijuteria, incluindo as misérias humanas. São superativas quando querem ver o circo pegar fogo, ou, então, se isolam sob o lençol da inércia. Estão sempre presentes, aqui e ali, colhendo uma coisa, recolhendo outra. Às vezes brincam de se esconder na casa de quem vive fora da casinha. Nesses casos, elas fazem a festa, trocam de identidade o tempo todo. E quando uma se passa pela outra?...! Melhor sair de perto! Nessas ocasiões, ocorre treta poderosa, sobra confusão e explode a audiência do reality-show.

De vez em quando penetram no universo de uma inteligência cética ou não, obtusa ou não, cartesiana ou não, emocional ou sim e passam a lhe soprar os pensamentos... As pessoas submetidas a essa influência acreditam que somente uma das irmãs está ali fazendo carícias nas suas certezas. Que nada! A outra tá sempre por perto, saçaricando, selfiando, instagrandeando, fugindo de si, entre malabarismos delicados e sorrateiros, sempre desequilibrando a voz e as ações dos inocentes.

E quando a pessoa acha de fugir da realidade?! Humm! Pode até tentar, mas uma irmã não larga a mão da outra. Se seguem nas redes sociais. Segredos de uma são passados à outra. Só que nessas relações paralelas, elas mantêm uma fidelidade menos hermética e mais partidária, havendo o risco de vazamento de revelações, tá?!

Tem a história de que nasceram coladas uma na outra, e, com certo esforço, acabaram se separando só para terem a independência de se juntarem quando quisessem, na alegria e na tristeza, na feira da rua e na foto da campanha política. Mas isso é o que contam por aí. Será que é crível/inteligível/factível/tangível/consumível/corruptível/esquecível/elegível/rebatível/respondível/traduzível/fotossensível/indesmentível/menosprezível/subentendível/irreproduzível/ufa!/sobreinteligível/é_nóis_tá_ligado?

No final, as duas irmãs acabam por se confundir. Por nos confundir. Tentar visitá-las no seu lar/doce/home pode até fundir a cuca, sabia? Há perigo quando, ao tentar, a pessoa entra demais na realidade. Ou quando sai demais dela.

Eis o dilema.

15/04/2021

SALVE O PODER!

E o poder hein, gente? Que maravilha, né? Faz um bem danado, né não? Faz sim! Dá um conforto. Dá tanta segurança. Ah! O poder. É tão bom ter poder! Dormir, acordar, comer, beber, dormir... E o poder ali ao lado, sempre à disposição.

Tem dia que a gente acorda assim, com o poder batendo à porta, pedindo pra ser lapidado. Isso pede um atributo maior, gente! É o podeeeer! O poder que resolve tudo e pronto! De onde ele vem? Quem é que se importa? Ele é que é. E isso é o tudo. E que esse tudo esteja sob meu domínio. Do bem ou do mal. O que importa é o poder!!!!!

Eterna busca. Momento presente. No passado e no aqui e agora simplesmente, sempresmente, poderosamente. E como o desejamos!!! Sim! Se você não deseja, eu desejo e quero sim! Nasci pra essa revelação! De que forma for, qualquer cor e odor. Qual o caminho? Que seja qualquer um.

Abram alas para o poder! Despojado, declamado, decretado, inventado, coligado, assumido, revelado, sem pudor, ensimesmado, intolerante, cabisbaixo, torto, desinteressado, e, ainda assim, bem ou mal amado. Salve o meu poder, entre irmãos, entre amigos, entre amantes, cabeça, pernas, tronco e mãos que assinam e acenam ao poder.

Salve o poder e seus efeitos colaterais: adulação/bajulação/puxa-saquismo, fanatismo, lealdade, traição, corpos cansados e olhos obsequiosos, na plataforma da existência dos acontecimentos ou no vale dos esquecidos.

Algumas pessoas preferem personalizar o poder. É por aqui e é desse jeito. Não importam as consequências. Daí, é o que se vê: eu, você e tantos outros diluídos em conflitos prósperos.

E o mito do retorno ao tempo em que sempre tivemos poder? Lá onde a gente vivia bem e sabia disso? No centro do poder. Retornaremos um dia para lá? Eis o mistério do poder. Do podeeeeeeer!

13/04/2021

PUBLICAÇÕES DO EDVANDRO PESSOATO

O primeiro livro de poemas foi lançado em 2001:


Algumas publicações foram consequência de premiação em concursos literários:

Prêmio Instituto de Artes do Pará 2004 (Infantojuvenil)

Prêmio Imagina Só de Literatura Infantil (Secult/ PA) – 2009
    
Prêmio Instituto de Artes do Pará 2014 (Infantojuvenil)

Prêmio Dalcídio Jurandir da Fundação Cultural do Pará 2013 (Contos)

Outras publicações fruto da inquietação do poeta:
Tempo Editora, Belém, 2013

Tempo Editora, Belém, 2013 - 2ª edição

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10/04/2021


 

A TODAS AS FORMIGAS QUE EU MATEI

Acordar cedo e reformar o mundo: é o desejo de muitos.

Encontrar um mundo pronto e acabado: eis o desejo.
Nem uma coisa nem outra, muito pelo contrário: é você?
Conseguiu ser o que queria quando era projeto de gente, naquele não tão distante mundo infantil? Decepção ou orgulho? Está contente? E a criança que era você? Será que ela está (estaria) feliz no happy day atual, agradecendo e sorrindo à toa a você pelo futuro proporcionado? Ou estaria muito pê da vida porque você abandonou/fugiu/se desguiou do que prometeu a ela (a você)?
Será que os sonhos vão e voltam pra cobrar? Feito encosto. Se for assim, eles podem puxar a ponta dos seus dedos para um precipício. Não é bom duvidar que as intenções daquela criança que era uma de nós possam estar por aí, feito almas penadas, esperando sossego. O quê?! Você se livrou dos sonhos daquela criancinha (que era você) embaixo do tapete? Atrás de um esquecimento? Da falta de tempo? Num amor de carnaval na ilha de Mosqueiro? Numa vida produtiva/confortável? Ou num lance de ilusão...? Se sim, recorra a uma graça. É...!!! Existe o perdão. Tudo bem... Não custa nada recorrer a uma absolvição. Afinal, as religiões inventaram essa tecnologia para isso mesmo.
Porém, se você encarna o tipo de criança que não perdoa, está fu..., quer dizer, está no tempo de pagar o tributo à criança teimosa que é você. Ela, com o sonho colorido entre os dentes, pode reaparecer no meio do expediente da sua vida normal, sabia? Pode tirar você pra dançar e sussurrar no seu ouvido...
Pode ser também que a sua criança retorne para agradecer; para afastar a sua figura de gente grande do mesmo precipício do parágrafo passado.
Agora, se você é o tipo de gente que não prometeu nem promete nada a você, esquece tudo o que leu.


VIDA É TROCA

 Me dá isso que eu te dou aquilo. Eis o princípio de tudo. Há muito tempo.

Desde o primeiro momento em que um ser vivente encontrou outro ser, vivemos de trocas.
Estou falando de seres humanos, ok?
O há muito acima referido quer dizer um tempo distante pra cacete! Anterior aos aminoácidos, ao Big Ben, ao Éden... Põe tempo nisso...!
Pronto. Esse é o mote para todas as arengas e conflitos da existência.
Os primeiros habitantes da Terra não sabiam falar, se expressar, conversar, enviar mensagens. Imagine a falta de comunicação! De lá pra cá, mudou alguma coisa? Bem... digamos que sim. Siiiim! (Quem discordar, pode levantar o dedo). Tudo bem, aprendemos bastante, hoje somos diferentes. De qualquer forma, apesar das lições aprendidas, o velho cacoete dos antepassados permaneceu, confere? E a lembrança do que éramos no princípio grudou na narrativa e ficou tatuado na memória mítica. Por isso somos assim: brutos e sensíveis, tradicionais e contemporâneos, tiranos e liberais e por aí vai... Né, não!? Se reparar bem diante do espelho, enxergará um antepassado... Nessa batida, Parmênides e Heráclito são dois vírus que nos convidariam para uma laive simultânea. Você duvida? Pode discordar, se quiser, mas pense bem no que está pensando....
Voltando às trocas: se você quer/precisa de uma coisa e eu quero/preciso de outra, pronto, podemos chegar a um acordo. Pode ser que no meio das nossas pretensões haja uma faísca geradora de oposição, conflito, mau termo, e isso possa gerar uma briga, uma intriga, uma revolução, uma guerra, uma exclusão do grupo, um cancelamento... Foi e é sempre assim em CNTP (condições normais de temperatura e pressão), seja no engenho ou na arte, na filosofia, na religião, na política, na sociologia, na economia, na história, na ética, na ideologia, na ciência, no egocentrismo, na psicanálise, no futebol, entre vizinhos, na família, na separação entre casais, na tríade advogado-pai/mãe-filhos-com-avó e até no pai/filho/espírito santo, amém.
Dessa maneira:
Me dá existência, te dou evolução.
Me dá teu tempo, teu dou mais valia.
Me dá tua dúvida, te dou crenças aos montes. (ou o contrário?)
Me dá tua fé, segue este caminho (Não olha pra trás!).
Me tá teu cotidiano, te presenteio um logaritmo.
Me dá teu ouvido, te dou meu discurso.
Me dá um :):) que te dou um 😣 ou kkkkkk...
Detalhe: há situações em que o melhor é dá um real em vez da confiança. Se acreditar em Deus, creia que a troca é/ou foi justa.
E segue o barco.
Quanto a devoluções: Aguarde! Estamos em obra.